Português, filho único, indivíduo bem formado e educado nos valores da família nuclear tradicional, o narrador tem trinta e quatro anos, é quadro médio de uma empresa de informática e vive um casamento - sem filhos por opção - que se afunda numa rotina de desinteresse mútuo, e que procura compensar com relacionamentos passageiros com mulheres mais jovens. Em março de 1997 viaja, em trabalho, para África. Se pudesse escolher, África não seria o seu destino. O país para onde viaja, antiga colónia portuguesa, vive, há décadas, uma guerra civil que se arrasta desde a independência e provoca, na sociedade, uma divisão perturbadora entre os que mandam - uma elite político-militar e económica -, e os que obedecem - uma população que sobrevive com salários baixos ou, na sua maior parte, através de esquemas ou atividades criminosas; uma classe média é praticamente inexistente. Enquanto a aculturação é ativamente procurada, instala-se a sensação de existir numa união de áreas marginais onde outros portugueses trabalham – na defesa de interesses empresariais -, cooperam – na defesa dos interesses nacionais – ou simplesmente existem – na defesa de interesses próprios; entre eles, uma nova geração regressa à antiga colónia. Seis meses mais tarde, numa segunda viagem de trabalho, o dilema apresenta-se sob a forma de uma proposta de trabalho com contrapartidas aliciantes: casa com pessoal doméstico, carro com motorista, elementos de segurança, um plafond generoso para despesas e como salário, na mão, dez mil dólares americanos. É tempo de se questionar. Razão e emoção equilibram-se e a decisão é tomada; mas o fim surge, inesperado e violento, quando o sol se põe.