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Excerto:
HALOR
.PRÓLOGO.
Um mar cor de ouro suspirando suavemente na brisa da tarde, uma seara sem fim aguardando pelas máquinas sob o sol da estação das colheitas. Espigas douradas subitamente enegrecidas, numa vaga imparável soprada por um vento de tempestade. Um mar negro, exalando putrefacção, testemunhado pelas máquinas paradas sob o sol da estação das colheitas perdidas.
Orlan acordou. O velho pesadelo regressara para o atormentar.
.1.
A voz desapareceu? Nahala levou a mão ao rosto. Com alívio, sentiu o exoesqueleto que lhe cobria quase metade da face. A sensação durou apenas um momento. O corpo do Kiril ainda ali estava, sim, no mesmo lugar onde se acoplara há mais de uma década. A voz dele, porém, tinha desaparecido.
"Não pode ser!"
Nahala abriu os olhos e enfrentou com dificuldade a luz branca que emanava do tecto. Tapou o olho direito e, em vez de ver o que em condições normais Kiril veria, encontrou apenas escuridão. Ficara cega do olho esquerdo? Isso também não lhe pareceu possível. Sentou-se, com o coração a bater descompassadamente. Olhou à sua volta e percebeu que se encontrava na enfermaria da nave. Por que motivo a tinham retirado do estado de suspensão em que era suposto completar a viagem até Halor? Nada parecia fazer sentido.
A porta da sala abriu-se, dando passagem a uma figura conhecida.
"Andros," exclamou Nahala, reconhecendo o velho andróide da família Novotir. "O que se passa? Por que motivo fui acordada? O que aconteceu? Onde estão o meu tio e os meus primos? Também foram acordados?"
O andróide observou os sinais vitais de Nahala, indicados num ecrã translúcido poucos metros acima da cama onde ela se encontrava sentada.
"O seu tio e os seus primos morreram," acabou por informar. "Lamento muito."
"Morreram? Mas como?"
"Uma infecção viral nas câmaras de suspensão. Um novo vírus. Ou, pelo menos, um vírus não identificado pelo sistema de suspensão. Nenhum deles conseguiu resistir aos sintomas."
"Que sintomas?"
O andróide pareceu hesitar.
"Que sintomas?" insistiu ela. "O que é que esse vírus provocou?"
"Necrose generalizada," afirmou o andróide.
"Mas eu estou viva," declarou Nahala, como se nada daquilo que o andróide acabava de dizer fizesse o menor sentido.
Andros fez um movimento de anuência.
"O simbionte," disse ele. "As minhas conclusões preliminares apontam para uma intervenção do simbionte no combate ao vírus que causou a morte dos restantes membros da sua família, Governadora."
"Governadora? Por que motivo me...?" A resposta tornou-se óbvia antes de concluir a pergunta.
Nahala voltou a tocar na carapaça que lhe escondia metade do rosto.
"O que se passa com o Kiril? Não consigo ouvir a voz dele."
"O simbionte morreu também, Governadora. Se assim não fosse, não estaria a dirigir-me a si usando o título que agora lhe pertence. Como a Governadora bem sabe, hospedeiros e simbiontes não podem ocupar cargos de decisão na Confederação, apenas lugares de assessoria."
"O Kiril morreu? Não, não... Acabaste de dizer que foi a intervenção dele que me salvou. Não pode ter morrido!"
"O simbionte fez uma escolha; é a conclusão a que cheguei: não sendo capaz de vos salvar a ambos, preferiu salvá-la a si."
"Mas isso não faz sentido," gritou Nahala.
"Efectivamente, não faz sentido," concordou o andróide. "A decisão lógica para o simbionte teria sido salvar-se e procurar outro hospedeiro. No entanto, talvez..." Andros não terminou a frase e desviou o olhar, voltando a focar-se no ecrã translúcido suspenso por cima da cabeça de Nahala.
"No entanto, talvez," repetiu ela. "Ias dizer mais qualquer coisa."
* Fim do...