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Excerto:
RAPAZ
PRÓLOGO
"Aqui!"
O berro acorda-me. Não vejo nada. Instintivamente, levo as mãos ao rosto. As luvas limpam parte da areia que se acumulou na viseira. Estou no exterior? O que raio aconteceu? Dói-me a cabeça. Fui atacado? E o miúdo?
Antes que me possa levantar, o céu pálido das primeiras horas da manhã desaparece por trás de três capacetes que se inclinam sobre mim.
"Está vivo," afirma um deles.
Reconheço-os de imediato. Mina enviou uma equipa de resgate para me encontrar. Faz sentido. E o miúdo? Onde está o miúdo? Receio o pior. Tento levantar-me, mas um dos capacetes, uma mulher, ordena:
"Fique deitado e quieto enquanto passo o scanner."
Obedeço. Conheço o protocolo. Além disso, dói-me a cabeça. Começa na nuca e irradia até me fazer doer os olhos. E estou gelado, apesar do fato protector. Se não o tivesse vestido, provavelmente teria morrido de hipotermia aqui mesmo, algures no meio do deserto, entre os Baldios e a Cidadela.
Tento refazer as peças do puzzle enquanto o pequeno aparelho zumbe à minha volta, da cabeça aos pés.
A mulher é a paramédica da equipa; não é difícil perceber isso. A voz dela interrompe-me o raciocínio ao declarar: "Está limpo!" Depois, ajuda-me a sentar e informa: "A sua máscara apanhou demasiada areia. É possível que o filtro esteja comprometido. Vamos ter de a trocar."
Abre a mochila militar e retira uma esfera que rapidamente se transforma numa protecção de rosto.
"Não será tão confortável como a sua," admite, "mas pelo menos está esterilizada."
Aceito a oferta. Estas coisas não foram feitas para comer areia. Removo a protecção que cobre totalmente a parte frontal da minha cabeça. A luz do início do dia, ainda que ténue, agride-me a vista e agrava a dor de cabeça.
"Apresenta sinais de trauma na nuca," explica a paramédica, assim que aplico a nova máscara. "Pode explicar-nos o que aconteceu?"
"Onde está o miúdo?" pergunto. Só isso me interessa neste momento.
Porém, antes que possa obter uma resposta para a pergunta, uma terceira voz quebra o silêncio:
"Base, aqui Extraction Team Leader 5-9-1. Encontrámos o Seeker 2-0-3. Está consciente e scanner clean. Over." O homem parece ouvir o interlocutor durante uns segundos, antes de dizer: "Copy. Over and out." Depois, aproxima-se de mim, inclina-se e pergunta: "Onde está o espécime?"
"Onde está o miúdo?" insisto eu. "Está tudo bem com ele?"
"Uma criança?" pergunta a oficial paramédica.
"Uma criança," berra o Team Leader. "Um hospedeiro? Você estava a tentar transportar um hospedeiro para dentro da Cidadela?" O tom da voz do homem deixa bem evidente a reprovação por trás da pergunta.
"Claro que não," protesto. "Ambos sabemos que isso deixou de ser legal há muito tempo. O miúdo não é um hospedeiro. Scanei-o múltiplas vezes. Está limpo. Completamente limpo."
"Partindo do princípio que o seu scanner está a funcionar bem," retorque o homem. A viseira esconde-lhe o rosto, mas posso adivinhar a expressão dele naquele momento.
"Onde está o espécime?" insiste ele.
"Está guardado onde e como deve ser: num contentor seguro, dentro de uma mochila militar," respondo, apontando para o local onde reparo subitamente que nada mais há para lá de areia – e o meu saco de viagem?
"O que está aqui a fazer o meu saco? Deixei-o no acampamento. Foram vocês que o trouxeram?"
"As únicas coisas que encontrámos no seu acampamento foi um aquecedor e um abrigo com um saco um saco-cama lá dentro," garante a mulher.
* Fim do excerto *