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Decio Zylbersztazn, professor da USP, exímio violeiro, forma com sua mulher, Rosemarie, o Duo Vereda Violeira, mediante o qual promovem saraus de viola, poesias e "causos". Aí a veia do artista, que teria que projetar-se em outras formas estéticas. O conto O milagre de São Gonçalo, pode dizer-se, é uma projeção desses saraus da viola. Juca do pinho arruma a viola no saco, afina-a. Os violeiros temperaram a viola. "Soaram os primeiros acordes". É a celebração do santo protetor dos violeiros. Essas considerações têm importância para a compreensão dos contos de Décio. Como músico está ele, consciente ou inconscientemente, impregnado das noções de movimento, de tempo, de andamento, de ritmo. Seus contos têm ritmo tranquilo como as águas de um rio de planície que se encaminham para o remanso. Como músico sabe quando deve acelerar, frear, florear, pontear, o fluxo narrativo. Talvez isso explique que os contos não tenham localização concreta. Não estão ambientados em um espaço, salvo o primeiro ambientado em Berlim, que deu o belo título à coletânea: Como são cativantes os jardins de Berlim. Décio não imita. Segue seu próprio caminho. Não se deixou levar por modismo de agora ou de antes.
Para mim o melhor conto é Encruzilhada, pelo simbolismo: encruzilhada, como cruzamento de vias, onde se coloca oferenda de umbanda; encruzilhada, como entrechoque de personagens Helena e Homero, em que este se perde, na sagacidade da velha que termina com ironia: "- Prezado Dr. Homero. O Senhor tem uma decisão a tomar. Parece que está em uma encruzilhada". Aí estão, a meu ver, os melhores personagens da coletânea. José Afonso da Silva