Um escritor famoso, aclamado, premiado. Ninguém diria que as suas extraordinárias estórias não se limitam ao desenvolvimento exclusivo da sua imaginação. A sua criatividade e fantasia literárias são apoiadas na experiencia efetiva das situações descritas. Quando descreve um espancamento de uma mulher, não consegue limitar-se a imaginá-lo com base na sua percepção do mundo envolvente. Tem de o perpetrar. Não que o não conseguisse, se o quisesse, mas só assim entende que a escrita é legitima e sincera para com os seus leitores. Um pouco à semelhança do que levara Truman Capote a escrever In Cold Blood e a instituir a corrente pioneira non-fiction novel. O pior é que destes crimes menores, chamemos-lhes assim, o seu novo romance trata de um assassínio. Brutal e desumano. E só o seu psiquiatra, eticamente impotente, o poderá demover. Usando a sua terapia ou imiscuir-se na própria realidade da estória. O livro trata ainda do flagelo dos sem-abrigo, mas visto de um angulo absolutamente diferenciador. A ténue linha que por vezes se desenha, numa mente brilhante mas à beira da demência, entre realidade e fantasia também constitui matéria de foco nesta obra.