As ruínas têm que ser habitadas para que possam ser reconstruídas

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By Ariella Aïsha Azoulay

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Escrito e reescrito entre setembro e dezembro de 2023, a autora parte da sua condição de «judia» e «palestina» para, com clareza e desassombro, rememorar a destruição das culturas e vidas judias, em solo europeu, depois no mundo árabe — a destruíção das comunidades e culturas «judaico-muçulmanas» — a que se seguirá a colonização e destruição da Palestina, dos palestinos, até ao genocídio em curso em Gaza.

Ao associar a dor, que se inscreve nos corpos das vítimas e nos testemunhos dos sobreviventes, com o desejo de liberdade e a resistência do povo palestino, a autora compõe uma acusação lúcida, fundada na interpretação crítica da história do colonialismo, nacionalismo e imperialismo euro-americano, que se prolonga no pós-Segunda Guerra Mundial.

Na sequência da transformação da diversidade das «comunidades judaicas, que eram diferentes entre si e existiam disseminadas por todo o mundo», numa «questão», a de um «povo», sem terra, à procura de um «Estado-nação», formula-se como conveniente a hipótese da sua deslocação para a Palestina; deste modo a Europa se livra dos indesejados e racializados judeus, entretanto transformados em agentes coloniais perante «o medo da Europa perder a Palestina para os seus habitantes, que resistiam ao seu poder colonial e contra ele protestavam»; hipótese ainda conveniente no quadro pós-Shoah, já que permite à Europa eximir-se da sua responsabilidade «pelos crimes contra a humanidade inscritos nos corpos dos homens e mulheres judeus — de que o genocídio foi um aspeto».

Nesta sequência, também a Palestina é configurada como «uma questão», «marcando o início de um projeto colonial» e da violência continuada contra os seus habitantes e as diferentes expressões de convivência cultural (entre árabes de confissão judaica, cristã e muçulmana) existentes no território: a destituição e a despossessão dos palestinos, da sua terra e da sua cultura, doravante tornados em inimigos.

Contra a insuportável violência sobre o povo palestino, Ariella Azoulay defende, pois, um imperativo regresso às ruínas, um regresso a habitar tudo quanto foi destruído, às possibilidades que, durante décadas, foram categoricamente eliminadas pelo brutal processo de colonização levado a cabo por Israel. E defende o regresso à convivência comum, que foi destruída, entre muçulmanos e judeus. Neste sentido, advoga que a descolonização da Palestina tem como corolário indissociável a própria descolonização dos judeus. Ou seja: a luta pela descolonização, a única via que supõe a liberdade dos palestinos, o regresso às suas terras e às suas casas, terá que decorrer com a desnacionalização dos judeus, com a luta que os israelenses devem conduzir para alcançarem a sua própria libertação do jugo colonial. Este processo exige a critica e a denúncia permanente dos discursos sionistas, que são apoiados pelos Estados ocidentais, discursos nos quais se insiste em identificar israelenses e judeus, Israel e judaísmo, sionismo e antissemitismo, e se tenta silenciar quem se recusa a compactuar com o projeto colonial que o Estado de Israel prossegue.

As ruínas têm que ser habitadas para que possam ser reconstruídas