Em Gracejos, os contos se disfarçam de crônicas, que se disfarçam de ensaios, que se disfarçam. Traduzem a aventura periclitante do que está em busca. A ficção finge ser outra coisa do que é, modelando-se em formas fixas transitórias, a darem ensejo ao próximo gesto plasmador. Derrotam sua própria esperança de qualquer derrota, desviam-se em vista de miragens conciliatórias, extraviam-se em desencontros, que se revelam os verdadeiros encontros. Talvez assim imitem melhor a vida. As graças que se descobrem por fim gracejos, e vice-versa, sem que nenhuma crença sirva de ultimato. Para que se escreva o que se deve, é necessário idealizar, por condição da própria linguagem. A imaginar com clareza literária o visionado, através da espessura de todo o impuro vivido. Quem sabe o sentido não tenha se perdido algures, alhures, no tempo. Teria que se fazer o caminho de volta, reparando em tudo ao redor, até a casa arruinada. O corpo ingenuamente a vibrar de nostalgia, contaminando a tarefa. Não pode evitar as muitas quedas, mas há de se levantar consciente, desencantado. Assim figura a melancolia, anverso da ilusória felicidade possível. Enquanto a tristeza goza com as próprias lágrimas descendo pelo rosto. Alguém houve de assistir-se, sobrevivendo-se, escrevendo. Mais uma graça se converte em gracejo, literatura.